ARTIGO
Cassiano Arruda Câmara | jornalista
Transformada num verdadeiro zumbi, a Alcanorte – vez por outra – faz algum tipo de aparição.
Na maioria das vezes em razão de alguma lembrança de uma frustração coletiva ou na hora em que se discute alguma oportunidade de desenvolvimento para o nosso Rio Grande do Norte. Criada na época em que a ditadura prometia construir o “Brasil Grande”, quando os setores vitais da economia estavam nas mãos do estado, a Alcanorte virou num dos piores exemplos de privatização, quando foi feita a abertura da economia brasileira.
O que era um projeto estruturante para o Rio Grande do Norte, com projeções que indicavam a possibilidade de duplicação da receita tributária do estado, depois de privatizada – sem ter ainda concluído a sua fábrica de barrilha de Macau – incorporou-se ao patrimônio de um grupo econômico (com atuação na produção de sal e cabotagem) vivendo enormes dificuldades, que imaginou salvar-se ampliando o seu campo de ação. Foi um verdadeiro abraço de afogados.
Enquanto estatal, a produção e distribuição de barrilha era um monopólio exercido pela empresa-mãe, a Companhia Nacional de Álcalis, que tinha uma fábrica já obsoleta funcionando em Cabo Frio. O monopólio agüentava tudo.Mas, com a privatização veio a quebra do monopólio. A velha estrutura não tinha condições de competir no mercado, e o grupo que assumiu o negócio não possuía capital para construir a nova fábrica, numa época em que o mercado mundial era inundado por produtos similares de preço extremamente baixo.
Com a falência do grupo empresarial, o projeto da Alcanorte tornou-se um estorvo e terminou transformando em contrapeso para amenizar as suas questões trabalhistas. Surgia a Noválcalis, um exemplo pronto e acabado de se fazer capitalismo sem capital. Depois de inúmeras tentativas, do sonho de inúmeras associações, eis que a Alcanorte está sendo entregue a alguém do ramo. O ex-Secretário de Energia. Jean-Paul Prates, consultor de prestígio que está assumindo a condição de gestor do projeto que se arrasta há 35 anos, repetindo a condição de um caminhão atolado, capaz de tracionar suas rodas e ganhar velocidade, mas sem conseguir sair do campo.
O aparecimento de um gestor qualificado, certamente, não basta para solucionar um problema desta dimensão. Mas, pelo menos, se terá um elemento qualificado para oferecer interface a qualquer ação que o Governo do Rio Grande do Norte possa fazer para que haja a retomada e se busque a conclusão do projeto, a partir do levantamento de argumentos. Começando pelo fato do Brasil ter sido – há quarenta anos – autossuficiente na produção de barrilha e hoje deixou de produzir um produto conseguido estratégico, podendo, portanto, oferecer oportunidades de negócio, sobretudo para a Petrobrás, que já está presente na região (com uma mini-refinaria) e poderá encaixar mais um item no meio dos seus produtos.
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