A senadora Marina Silva tenta conciliar o compromisso que sustentou com as alianças em torno de seu projeto e o anseio de setores do PV por uma aliança mais pragmática com um dos candidatos.
A senhora sempre defendeu o segundo turno, mas acabou favorecendo o tucano José Serra. A senhora se sente frustrada?
Nós favorecemos a democracia. Como diria o apóstolo Paulo, o amigo do noivo tem de se sentir tão feliz quanto o noivo. Eu estou feliz que o povo tenha oportunidade de olhar melhor os candidatos. Não tenho o direito de ficar frustrada, enfrentando as circunstâncias e as dificuldades que eu enfrentei, conseguindo 20 milhões de votos dos brasileiros com 1 minuto e 20 de televisão, com uma estrutura pequena, sem coligação, e as pesquisas não conseguindo alcançar meu desempenho.
Os analistas e os críticos quebram a cabeça agora para entender o eleitor de Marina. Quem são os "marineiros"?
Os marineiros são uma esfinge. São uma esfinge para as visões pré-estabelecidas, para a dicotomia direita e esquerda. Eles estão dizendo: "Decifrem-nos ou vamos devorar essas velhas concepções." Esse movimento criou pelo menos o embrião de uma terceira via. Estávamos diante de um processo puramente plebiscitário e a democracia não sobrevive a isso. No plebiscito pode tudo, pode um candidato se apresentar sem programa de governo, o outro lado se apresenta com várias versões de programa e só legitimando as coisas boas, sem menção às negativas.
O que a senhora sente quando ouve agora Dilma e Serra se dizendo "ambientalistas desde criancinha"?
Espero que seja um esforço sincero. Não posso julgar se é sincero. Vou esperar o processo. O povo tem uma inteligência incrível, uma sensibilidade fina, as pessoas sabem o que é apenas declaratório.
O que pretende fazer com os eleitores que conquistou?
Pretendo estar junto com eles. Só isso. Cada um cumprindo seu papel. Neste momento, fui arco e flecha. Me dizem que eu tive os votos dos desiludidos. Prefiro acreditar que eu tive o voto dos que se reencataram com a política. É um amadurecimento, não existe essa coisa de um líder messiânico, é alguém que se coloca na perspectiva de fazer com as pessoas, não para elas.
Ainda existe algo de PT na senhora?
Quando saí do PT e me filiei ao PV, consegui uma metáfora, funciono por metáforas. Tinha carinho pelo PV por causa do Chico Mendes. Na manhã da filiação, chorei muito no hotel. Metade de mim estava alegre, metade, triste. Até que eu consegui a metáfora, que foi a frase do Guimarães Rosa, no conto Nenhum, Nenhuma: "Será que você, um dia quando a gente se separar, sem querer, sem saber, seria capaz de continuar gostando de mim, e gostando, e gostando? Como é que a gente sabe?". (chorando) E eu descobri que, mesmo depois dessa separação, sem querer, sem saber, eu ia continuar gostando e gostando. Fui para a convenção feliz. Feliz com o PV também. O PT vai continuar dentro de mim, como o PV sempre esteve dentro de mim.
Sua foto estará na urna em 2014?
Não podemos ficar pensando no lance lá na frente. É bom jogar as sementes na terra e esperar que elas brotem. Eu não sou a única, quero que haja uma terra fértil com muitas sementes nessa terceira via que começa a nascer.
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