quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A mulher do próximo

CRÔNICA

Cid Augusto | jornalista

Perdoai-me, Senhor, pois eu pequei. Mas também, não cobiçar a mulher do próximo, mesmo correndo riscos, já que o próximo estava realmente próximo, seria impossível a qualquer homem que se deparasse com a dama a quem meus sentidos despiram.

Além da penumbra do ambiente sob a lua-nova, a taça de vinho tinto seco e a brisa marinha, vieram aquela boca devassa e aqueles olhos malditos desafiar a insônia dos seiscentos diabos que me devora a cada domingo. Se foi uma provação, convenhamos, exagerastes na dose.

Felizes os homens que conseguem dormir aos domingos, sem precisar sair por aí, tomando uns goles para entorpecer o juízo, atrapalhando a sinfonia das corujas, ouvindo o lamento dos desgraçados, desfiando sozinho o seu próprio rosário de desejos.

Desejos que nem sempre são puros, desejos de trair o paladar misturando cachaça com coca-cola e de se apaixonar louca e alucinadamente por mulheres sem nome, cujos rostos serão esquecidos ao cair do primeiro raio de Sol, na hora de voltar para casa.

Bem-aventurados os que não se esquecem da noite passada nem perdem beijos na neblina. Malditos os que desprezam as conquistas, desgraçada aquela noite, desgraçada aquela mulher que se foi sem legitimar o meu pecado para morrer no esquecimento.

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