CAUSO
Valério Mesquita
Escritor
O doutor Chico Lima, então juiz de direito da comarca de Macau, tomava "umas doses", - segundo o próprio - para enfrentar expedientes chatos e cansativos. Certa vez, acontecia uma audiência sobre suposta traição amorosa. Presentes, marido traído, esposa traidora, e o "pé de lã", pivô da quase tragédia. Ouvidas as testemunhas de ambas as partes, chegou a vez de Zeca de Agostinho, maluco beleza, que vendia água nas residências.
O magistrado, um tanto alterado, indagou: "O senhor afirma que viu esse rapaz entrando na casa de dona Isabel, bem cedinho?". Zeca, ajeitou-se na cadeira e falou: "Bom, eu 'num seio' que hora era, mas 'entrando e saindo', eu vi muitas 'vêis'!". Ai o saudoso Chico Lima chegou ao limite: "Prendam esse cabra, por desrespeito a autoridade! Isso não são modos de falar!".
Depois de tudo, o escrivão ponderou: "Doutor, aquele coitado não sabe nem o que diz...". Chico Lima, segurando a cabeça com as duas mãos, atenuou: "Deixe pra lá. Quando passar a minha ressaca eu mando soltar...".
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