terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um ano sem o imperador da Casqueira

Foto: Alex Gurgel
1º Aniversário de falecimento do poeta e professor Benito Barros
Texto: João da Mata

“Dezembro chegando.
– Aleluias de pastoris,
Lapinhas e fandangos.
Alegres passos
De Bumba-meu-boi
Em noites de navegar.”
Benito Barros

No Natal do ano passado ele falecia no hospital Promater. Tinha muito planos em andamento. Entre eles, deixar para Macau uma biblioteca de autores note-rio-grandense. Passado esse tempo, o projeto ainda engatinha. Alguns amigos tentam levar o seu plano adiante. Seria uma grande homenagem ao poeta que fez tanto por sua terra e cultura.

Existe uma seta do tempo. Cuidado. É frágil. Não vire. A Caixa onde hoje cospes e jogas teus dejetos já transportou cristais. “Tempo aziago, onde estavam que não percebeu as tramóias do enganador, as trapaças do invejoso?”. O Poeta Benito Barros sabia que seu tempo é hoje e por isso tinha pressa de viver e gritar pela degradação da memória e do “Flamboiã Assassinado”.

Em “Macauísmos – Lugares e Falares Macauenses” (Imperial Casa Editora da Casqueira 2ª ed. 2001 Revista e Ampliada,) ele traça uma cartografia sentimental de sua cidade amada, e divide o livro em três tópicos: Matulão de Sonhos, Toponímia e Falares. Macau, a própria cidade do já teve. “… dizem que velho Frade por aqui passando e por motivos que ignoramos, ao retirar-se para sua terra, batendo os seus chinelos uma no outro, pronunciou estas rijas palavras numa quadra que ainda é declamada em várias bocas: Sal, canoa e peixe seco / É de Macau a trindade!… Ciência, moral e virtude, É sua odiosidade” (op cit p. 283).

O Livro abre com o belo soneto Cidade Morta do poeta Fagundes de Menezes: os fantasmas desfilam nas calçadas / erguendo sobre as mãos o tempo morto / resquício de um outrora inda insepulto / transportando em galeras flamejantes…. ; o que já denuncia a cidade de Macau que o poeta via tentar resgatar de um passado de glórias e de um presente feito de fantasmas e escombros. Uma “rápida e confusa memória- quase réquiem – de uma triste cidade”, diz o poeta da Praça da Conceição.

No belo livro “Réquiem para o Infinito”, BB decreta a morte do infinito. “Meu infinito era moreno e doce e navegava solerte minha alma… Implorei, inútil, um troco aos meus carinhos, “a inusitada paixão”.

Benito era um poeta da marginália e das grandes epigrafes. Impossível separar seus livros de sua maior obra; sua vida, vivida sofregamente e bebida em grandes tragos. Benito cita Álvaro de Campos para constatar “já não há mais infinito. Movimento dos barcos para nenhum cais nem paz. E para vocês que catam na caixa (com a seta invertida); fodam-se! A hora é dos desesperados. Há só dor e suor em meus poemas. Pobre Ícaro: seu vôo já não carece de asa, só de pena”.

Tenho impressão que Benito sabia que ia morrer numa noite feliz, véspera de Natal, recitando os Versos Íntimos de Augusto dos Anjos que ele tanto amava e podia servir como epigrafe da sua obra-vida. Vês! Ninguém assistiu ao formidável / Enterro de tua última quimera. / Somente a Ingratidão – esta pantera – / Foi tua companheira inseparável!

Benito foi professor, bibliófilo, poeta e escritor. O seu ofício de escriba pode ser sintetizado nesse breve trecho transcrito do livro “Além do Nome”, de Marize Castro (pp. 208 ): “Escrever é o momento mágico que nos transforma em homens e em deuses. Escrevo como forma de catarse. Eu me considero uma normalista, de saia plissada, os seios estourando no corpete e o caderno cheio de corações, com flechas de cupido e lágrimas, muitas lágrimas. Escrevo para jogar fora um bocado de demônios, fantasmas, coisas desse tipo. Mas, na verdade, eu quero ser apenas um fabricante de brinquedos, um fabricante de Pinóquio”.

Lembro seu belo ideário que diz das nossas fraquezas e da efemeridade da vida:
Se uma flor cair nos teus pés,
Apanha-a e goza esse instante de eternidade
e sente o quanto és forte
Se um homem cair aos teus pés
levanta-o e experimenta o que a vida
de melhor nos oferece;
a ciência da nossa fraqueza
e do quanto somos passageiros.
Se uma idéia cair aos teus pés,
Agarra-a e cria o mundo que ela sugere.
Fraco ou forte, eterno ou efêmero,
pouco importa como sentirás,
apenas aproveita bem.
pois, nesse instante, e só nesse instante,
serás Homem
- correrá em tuas veias a seiva
demoníaca do Ser humano…

Falares Macauenses
Alguns falares macauenses são semelhantes aos da capital do RN, e outros são mais específicos e conservam o sabor local.
As pregas – importante, besta. Também fala-se: As pregas de Quelé.
Boreste – o ânus
Botar queixo- fazer-se de rogado, importante
Brita – arroz
Caçuá em besta – boca de bode
Cambão-de-gola – pênis
Capar o gato – sair
Cantiga de Cu- diz-se de coisa que nunca se acaba
Chulado- embriagado
Colar o peru de féria – complicação
Comida-de-rabo – Carão, batido
Cu-da-gata- importante
Tico-tico- dinheiro

Um comentário:

  1. É...Benito, Macau continua pior, agora o prefeito deu pra inventar o carnaval do asfalto.


    Joãozinho 30

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