Ídolos do futebol macauense nas décadas de 50 a 70, Tôtinho conta suas memórias dos tempos que jogava futebol.
Por Alex Gurgel, Bosco Afonso e Getúlio Teixeira
Fotos: Alex Gurgel
Mesmo para aqueles que vivenciaram o futebol macauense nos anos 50, 60 e 70, se alguém se referir a Adamastor ninguém, ou quase ninguém vai atribuir esse nome ao centro avante do Flamengo e que mesmo com a sua baixa estatura de 1,58 metros se tornou o terror dos zagueiros adversários, sagrando-se como um dos melhores atacantes da terra das salinas.
Estamos nos referindo a Tôtinho, que tem como nome no seu registro civil de Adamastor e que iniciou a sua carreira de atleta do futebol no Vasco (de Armando) quando ainda tinha 12 anos de idade. Hoje, residindo no Conjunto Santa Catarina, em Natal, com quase 70 anos de idade, Tôtinho continua com o seu jeito bonachão, sempre risonho ao lado da família que constituiu.
Nascido em Macau, na Rua Marechal Deodoro, começou jogar bola no campo das Salinas, onde a areia fofa dificultava as jogadas mais elaboradas. Seu primeiro time foi o Vasco, comandado pelo saudoso Armando de Zé Badalo. Depois, Tôtinho jogou pelo Flamengo, pelo ABC e América. Pendurou suas chuteiras jogando pelo Independente do conjunto Santa Catarina como volante, em Natal, junto com jovens de 20 anos.
Aos 18 anos, quando veio servir o Exército em Natal, Tôtinho já era um craque afamado e foi convidado para jogar pelo Santa Cruz, pelo Ferroviário e pelo Guarani de Nova Descoberta. Quando cumpriu sua obrigação militar, Tôtinho foi convidado a mostrar seu futebol na Seleção de Assu. “Veio uma pessoa do Asa de Arariraca me buscar pra eu jogar lá. Eu não fui por causa de uma namorada muito bonita que eu tinha lá em Assu”, disse sorrindo.
Em que time você começou a jogar? Você lembra das pessoas que jogaram ao seu lado?
Começoi a jogar no Vasco, organizado pelo finado Armando de Zé Badalo, aos 12 anos, estreando no campo das Salinas. No time do Vasco joguei com Assis, Bronca, Melcadela, Mossada, Zé Olhim, Ciço de Elisa, Bagabaga, Siri, Véscio, Baduléu, Tico de Zé de Rôla, Galego Gilmar, Zeca Pomba de Rôla, Didi Careca, entre outros.
É verdade que você jogou apenas uma partida no América de Macau?
Fui para o América porque aconteceria um baile de carnaval e eu queria brincar o carnaval. Então Zé Alves me deu 50 Contos para eu jogar no América. Era o preço para pagar a entrada no baile. Eu ainda joguei uma partida pelo América contra o Flamengo e fiz 2 gols. Na outra semana, Nazareno (que era o presidente do Flamengo) arranjou os 50 Contos para eu devolver ao Zé Alves e voltar para o Flamengo.
Em que posição você jogava?
Joguei muito tempo como centro-avante do Flamengo. Mas, no Matutão de 1961, eu fui campeão jogando pela Seleção de Macau como ponta-esquerda. Minha especialidade mesmo era bater pênalti. Eu bati pênalti para o melhor goleiro que eu já vi na minha vida, que era Toinho Amâncio, conhecido como “Homem Elástico” e ele nunca pegou uma bola que eu chutava. Todas as bolas entravam para o gol.
Naquele tempo, Macau tinha bons jogadores?
Macau era a única cidade que não precisava contratar jogadores de fora. No ano que acontecia o Matutão, a Seleção de Macau era formada somente com os filhos da terra. Nesse tempo, Macau tinha quatro times com a mesma qualidade técnica: ABC, América, Flamengo e Unidos. Todos tinham o mesmo nível e niguém sabia quem venceria um jogo entre eles.
Como funcionava os times em Macau?
Cada time tinha um dono. O América era de Zé Alves, o Unidos era de Zé Aluisio, o ABC de Chiquinho Xôla e o Flamengo de Dona Pretinha. Alguns jogadores exploravam os donos dos times. Tinha jogador que morava na casa de Dona Pretinha. Ela alimentava o time inteiro na casa dela. Todos os dirigentes trabalhavam para o futebol de Macau com amor. Zé Aluisio era o único que tinha dinheiro e podia empregar os jogadores do Unidos na Cirne, sua empresa.
Como se comportavam os árbitros de futebol em Macau?
Havia um juiz de futebol chamado Eliel, que era torcedor doente do Flamengo de Macau. Ele foi apitar um jogo entre Flamengo x América e eu jogava no Flamengo. Quando eu estava dentro da área com a bola em direção ao gol, ele gritava: “chuta Tôtinho, chuta”. A turma trocou o juiz no intervalo do jogo.
Quais os jogadores macauenses tiveram projeção fora do RN?
Papagaio sai de Macau direto para jogar no Flamengo do Rio de Janeiro, levado por Seu Celso Lopes. Papagaio voltou e foi jogar no América de Natal como volante. Tempos depois, ele se envolveu com bebida. Toinho Careca foi até a cidade de Belém, em Portugal e jogou no Belenense. Mas, ele durou pouco por lá e voltou à Macau.
Profissionalmente, você jogou até quando?
Fui campeão do Matutão pela Seleção de Macau pela terceira vez no Castelão, em Natal, com 36 anos. Nesse dia, eu joguei 120 minutos porque houve prorrogação. Nesse tempo, o preparador físico era Ranilson e ele mandava os jogadores irem correndo de Macau à Alagamar, duas vezes durante os treinos. Eu tinha um bom preparo. Terminei jogando como volante na Seleção de Igapó e no Independente de Santa Catarina. Como volante, eu não corria tanto. Eu me antecipava nos lances no meio de campo e distribuía a bola para os atacantes fazerem gols.
Se você fosse fazer uma seleção de Macau da sua época, qual seria o time?
Goleiro: Toinho, lateral direito: Gilmar, Central: Dozinho, quarto zagueiro: Zeca Grande, lateral esquerdo: finado Naldinho, volante: Nilson, meia esquerda: finado Benero, ponta direita: Didi, meia direita: Veó, centroavante: Neto e eu na ponta esquerda. Esse foi o melhor time de Macau de todos os tempos.
Como você está vendo o futebol de Macau nos dias de hoje?
No meu tempo, havia uma grande dificuldade para conseguir material para jogar como chuteira, ataduras, meias, etc. Hoje, os jogadores tem material de última geração, mas não sabem jogar. Eu fui lá ver os meninos jogarem e não tive coragem de ver a partida terminar. O futebol está muito ruim. Os cabras não jogam nada. Hoje, só tem gente de fora nos times de Macau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário